A pressa (e a pressão) de ter todas as respostas
Há uns anos, numa fase em que a minha vida profissional parecia um puzzle em aberto, lembro-me de estar numa conversa com amigos. Um deles perguntou-me:
“Então, e o que é que vais fazer a seguir?”
A pergunta era simples. Mas dentro de mim parecia um murro no estômago. Eu não tinha resposta. E isso deixava-me inquieto.
Senti-me pequeno, quase envergonhado. Como se não saber fosse um fracasso em si mesmo.
E é curioso como carregamos este peso. Desde cedo, a sociedade ensina-nos que precisamos de respostas rápidas. Que saber o que queremos “ser quando crescermos” é sinal de maturidade. Que ter um plano é sinónimo de sucesso. Que hesitar é perder tempo.
Só que a vida real raramente é linear.
Muitas vezes, não sabemos o que queremos. Ou sabemos, mas não temos a certeza se é o certo. Ou até já soubemos, mas de repente aquilo deixou de fazer sentido. E nessa altura, surge o desconforto: o de não ter respostas definitivas para mostrar ao mundo.
A verdade é que vivemos obcecados por clareza. Queremos o caminho todo iluminado antes de dar o primeiro passo. Queremos garantias antes da escolha. Queremos certezas antes da experiência.
Mas a clareza não funciona assim.
Quantas vezes já descobriste o que querias só depois de experimentar? Quantas vezes só percebeste o que fazia sentido depois de tentar… e até depois de falhar?
É aqui que está o paradoxo: muitas vezes, a clareza não vem antes da ação. Vem da ação.
Pensa nisto como um nevoeiro. Quando olhas para o horizonte, tudo parece desfocado. Não consegues ver o caminho até ao fim. Mas se deres alguns passos em frente, o nevoeiro vai-se abrindo à medida que avanças. Não porque o horizonte mudou, mas porque tu te aproximaste.
Na vida acontece o mesmo. Esperar ter todas as respostas antes de agir é como esperar que o nevoeiro desapareça por completo para começar a caminhar. Não vai acontecer. O que acontece é que vais ganhando clareza ao longo do percurso.
E é por isso que a pressa em ter todas as respostas é tão perigosa. Porque nos paralisa. Ficamos à espera da “resposta certa”, que nunca chega. E no processo, perdemos tempo, oportunidades, experiências.
O que aprendi, e continuo a aprender, é que não saber não é falha. Não saber pode ser ferramenta. Porque é no espaço da dúvida que nos damos permissão para explorar. Para experimentar. Para nos surpreender.
E sabes qual é a ironia? Muitas vezes, aquilo que hoje nos parece incerteza vai ser, no futuro, a história que mais orgulho vamos ter em contar. O período em que não sabíamos bem o que queríamos, mas em que tivemos coragem de avançar mesmo assim.
O insight é este: tu não precisas de todas as respostas agora. Precisas apenas da próxima pergunta certa.
Talvez a pergunta não seja “O que vou fazer da minha vida?”, mas sim “Qual é o próximo passo que faz sentido agora, mesmo que não saiba o que vem depois?”
Trocar a necessidade de certezas por curiosidade. Trocar o peso da resposta definitiva pela leveza da exploração.
A pressa em ter todas as respostas cria ansiedade, frustração e, muitas vezes, paralisia. Mas a coragem de viver com perguntas abertas cria movimento, aprendizagem e, no fim, clareza.
No fundo, a vida não é sobre ter um guião escrito do início ao fim. É sobre ter coragem de improvisar e confiar que, passo a passo, o caminho vai-se revelando.