“E se eu falhar?” (A ansiedade de desempenho que nos paralisa)

Em 2023, tive oportunidade de subir a um palco TedX. Foram semanas de preparação e de revisão. Quando chego o dia, percebo que temos sala cheia. Tinha preparado os slides, revisto o discurso, praticado em frente ao espelho centenas de vezes. Tudo estava alinhado. Mas, durante todo o período, antes de subir ao palco, senti o coração acelerar de tal forma que parecia que ia saltar do peito. As mãos começaram a suar, a respiração ficou curta, e uma voz insistente ecoava dentro da minha cabeça: “E se falhares? E se esqueces uma parte? E se perceberem que não és tão bom quanto pareces?”

Não sei se já passaste por isso. Pode não ter sido numa apresentação. Pode ter sido numa entrevista de emprego, numa reunião importante, num exame, ou até num primeiro encontro. Aquele frio no estômago, não de excitação, mas de medo. O medo de não corresponder. O medo de falhar.

Chamamos a isto ansiedade de desempenho. E o curioso é que, muitas vezes, surge não porque não estamos preparados, mas precisamente porque nos preparamos demais. Queremos tanto que corra bem, que acabamos prisioneiros da ideia de perfeição.

E há uma coisa importante de perceber: a ansiedade de desempenho não é sinal de fraqueza. É sinal de que nos importamos. Queremos estar à altura, queremos fazer bem, queremos mostrar o melhor de nós. Mas quando deixamos essa ansiedade crescer sem controlo, ela deixa de ser uma força motivadora e passa a ser um obstáculo. Faz-nos duvidar de nós, sabotar a nossa confiança e, por vezes, até desistir antes de tentar.

A questão é que o erro está logo na forma como pensamos. Quando nos focamos apenas no resultado, no perfeito, no irrepreensível, no “não posso falhar” e esquecemos que a vida não funciona assim. O que mais marca os outros não é a perfeição, mas a autenticidade.

Pensa nas pessoas que mais admiras. São perfeitas? Ou são aquelas que se mostram humanas, que erram mas continuam, que partilham a vulnerabilidade sem medo?

A verdade é que o “E se eu falhar?” nunca desaparece totalmente. Ele vai estar lá em cada desafio novo. O que muda é a forma como respondes. E uma resposta poderosa é trocar a pergunta:
Em vez de “E se eu falhar?”, tenta perguntar: “E se eu aprender, mesmo que não corra como imaginei?”

Porque no fim do dia, a ansiedade de desempenho é alimentada pela ilusão de que seremos julgados permanentemente pelo nosso melhor ou pior momento. Mas ninguém te resume a isso. Somos mais do que um resultado. Somos o percurso inteiro.

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Mudança não é so começar… é aprender a deixar para trás